"Podemos ter a propensão para suspeitar que uma pessoa possa cometer uma imoralidade; as nossas suspeitas são geralmente fruto do nosso amor-próprio, quase sempre provenientes de uma comparação tácita que fazemos nas profundezas dos nossos corações: apressamo-nos a ver o mal nos outros, para podermos considerar-nos melhores que eles. Ponderando um pouco mais sobre o assunto, não seria melhor, minha senhora, que um crime secreto nunca fosse revelado, em vez de imaginar crimes ilusórios através de um julgamento muitas vezes precipitado, e assim evitar sujar desnecessariamente, aos nossos olhos, além daqueles que o nosso orgulho atribui? E, de facto, não teremos toda a vantagem em analisar assim as coisas? Não será muitíssimo mais importante, em lugar de punirmos um crime, evitar que ele se dissemine? Deixá-lo nas sombras, onde ele mesmo procura manter-se, diga-me, não será, com efeito, reduzi-lo a nada? Assim que se torna do conhecimento público, rebenta o escândalo, e os comentários que tecermos sobre o assunto servirão apenas para inflamar as paixões daqueles que sentem a mesma tendência para esse tipo de conduta."Sade, Marquês de, "Eugénie de Franval ou o Incesto"
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